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Palmas, Paraná
Trata-se de uma Academia de Letras do Município de Palmas-PR, congrega escritores, Poetas, Pesquisadores, benfeitores da Educação e Cultura de Palmas. Pretende divulgar eventos, datas, livros, escritos em geral de acadêmicos e de colaboradores.

3 de mar. de 2010

O SOCÓ (Antonio Alceu Araújo)

O socó embrulhado num farrapo nostálgico do céu, que de certo ele roubou, lá se vai, assobiando sentidamente a sua grande saudade, em demanda de outra lagoa.

À tarde já ruboriza os contornos acinzentados, meditativos, dos capões, que vestem pesadamente os cerros próximos, quando o assobio dele, que voa baixo, abanando desanimadamente as azas moles, se encomprida por aqueles ermos sonolentos numa dolorida nota de despedida. Aquela melodia muito langorosa chora a mágoa das lagoas de águas paradas, sismarentas, carreia a tristeza daqueles ermos inconsoláveis, e, nessa viagem melancólica, vai alferjando toda a tristura e quieteza que encontra no ar pensativo das tardes enevoadas, abatidas...

E o socó lá se vai levando saudade...

La se vai sangrando o grande coraão da natureza, que se prosta como se tivesse rezando, pedindo consolo, desabafando...

Por isso o socó é o símbolo da nostalgia. E´a saudade viajando...

E´a peregrinaão alada. Mansa e quase subtil, desse sentimento indefinível, vago, esquisito, muitas vezes inexplicável e outras até absurdas e dolorosas, mas sempre bom, balsâmico, macio como penugem, que se chama saudade.

O socó, esse eterno namorado do azul...

Esse farrapinho do céu, caído e sofrendo na terra...

Esse sonhador impenitente, mas inofensivo, que perscruta com olhar amortecido e interior, no reflexo marulhento das águas, o céu distante, na esperança e ilusão de que o infinito inalcanável esteja ali mesmo, bem pertinho, desdobrando sobre o lençol borbulhante das águas mansas.

Embriagadora miragem líquida, de encanto suave, sem o funesto logro da verdadeira. Encantadora, carinhosa miragem, que lhe dá o que está la tão longe, fora do alcance de suas azas frágeis, inatingível; que lhe da menor que a sua pupila, contemplativa, o infinitamente grande, e tão perto, que o seu bico pega o longinquamente perdido.

E ele ali fica, à borda umida da lagoa, esquecido horas a fio, trepado desengonçadamente ora numa, ora noutra das suas pernas longas.

De quando em quando, desperto, enfia o comprido bico na água quieta, numa carícia leve, fluida, quase abstrata, retomando logo depois maquinalmente a mesma atitude de êxtase, de enlevo respeitoso, místico ...

E ali fica, cabisbaixo e mudo, afundado apaticamente no seu ardente ... sonho aquático ....

O socó, afogado no seu grande sonho interior, cisma ...

Além de amar faquiricamente, desejar muçulmanamente, de querer sem os arroubos violentos, passionais, da conquista, é um astrônomo às avessas...

Sonha do alto olhando para baixo, para as poças sonolentas presas nos barrancos , tapados de capim alto.

Despreza a visão despeada, atrevida, desvairada das alturas. E ele, pássaro humilde e tímido, vivendo uma vida quase diluída, de penumbra, habitando, de preferência, os lugares sem dono, sem vida , mas fartos de poesia embaladora das águas sem caminho, resignadas, sente-se com certeza o dono de toda aquela grandeza discreta .... conformada.

E há de ser por isso que ele a deixa, quando tem de partir ...com toda a mágoa traduzida naquela modulaão tristonha, queixosa, de que vai embora chorando ...

Pastoreja morosamente as águas, com a eloqência religiosa e muda do seu platonismo de absorto, de recorrente estático de águas adormecidas.

Domina pela contemplaão, pela dinâmica de pudica inércia.

E a gente não sabe mesmo, afinal a que está ele adorando; se ao céu pendurado no infinito, que está boiando no espelho bambo das águas claras; se a estas mesmas águas preguiçosas, que se balançam quebradamente, em ritmos curvos, perversos, na sede , a sua luzida superfície.

Estes dois amorosos constantes,brincam,namoram-se, acariciam-se e enleiam-se, ondulantemente no mesmo coxim voluptuoso; e o socó ali se planta a vida toda, talvez querendo ser um deles, para participar daquela felicidade, talvez querendo ser um dos dois ou ate´mesmo amante dos dois...

Talvez ... A gente não sabe...
Quem sabe quanta coisa o socó deseja, quer?!...
Pena volante presa também, torturantemente, ao grilhão do destino.
A sua sina até se parece com a da gente, mísera carcaça humana, rastejando vilmente na papa peganhenta da terra.

E´que havemos nós de esperar, se ele, que voa, que é quase um pedacinho do céu, também sofre, também é infeliz, também é um perpétuo desejando ?! ....

Destino ...

Palmas, setembro de 1933



Observação: trata-se de escritor que usa muito a reticência. Segundo observaão do Dr. Alvir Riesemberg isso se deve à influência telúrica E´a visão do desdobrar infinito das coxilhas que se sucedem na campanha palmense. (Joaquim Osório Ribas)

Um comentário:


José de Araújo Bauer. Membro Fundador


José de Araújo Bauer nasceu a 30 de janeiro de 1911, em Palmas, Estado do Paraná. Filho de Henrique Bauer Sobrinho e Zulmira de Araújo Bauer. Foi casado com Maria de Lourdes Loyola Bauer (in memoriun). Cursou o primário na Escola Elementar dos Padres Franciscanos, em Palmas, Paraná. Exerceu inúmeras atividades, foi Empreiteiro Rural nos municípios de Palmas, Paraná e Água Doce, Santa Catarina; Peão de transporte de tropas de gado de Palmas a União da Vitória e de Palmas a Palmeira, Estado do Paraná; Balconista em União da Vitória e Jangada do Sul, Paraná; Agregado e Capataz de Fazenda no município de Água Doce, em Santa Catarina; Proprietário Agropecuarista, Criador da raça bovina Caracu, no município de Água Doce, Santa Catarina, desde 1960. Aprecia escrever, de suas atividades literárias destacam-se: Coletânea Usos e Costumes da Sociedade Campeira de Palmas nas Primeiras Cinco Décadas do Século XX (trabalho produzido para o Programa Nossa Terra, do Departamento de Educação da Prefeitura Municipal, 1997, conforme consta do Jornal O Palmense, n. 121, de 28 de junho de 1997; A Deligência , texto publicado no Jornal O Palmense, n. 121, de 28 de junho de 1997, p. 5 (Projeto Nossa Terra - Departamento de Educação da Prefeitura Municipal de Palmas, Paraná); Antônio Maciel de Araújo (Tonhá). Texto publicado no Jornal A Cidade de União da Vitória, edição 099, p. 5, de 23 de março de 2000; De Caminho de Tropas a Estrada de Rodagem in Nazaro, Lucy Salete Bortolini. Uma história de fé, luta e garra de um povo. Palmas, Paraná: Kaingang, 1999, p. 43-47; O primeiro Ônibus a Palmas in Nazaro, Lucy Salete Bortolini. Uma história de fé, luta e garra de um povo. Palmas, Paraná: Kaingang, 1999, p. 48-51; Prefeitos Municipais de Palmas in Nazaro, Lucy Salete Bortolini. Uma história de fé, luta e garra de um povo. Palmas, Paraná: Kaingang, 1999, p. 52-56 e Reminiscênicas... Histórias de Palmas emergindo da Memória (2001). Recebeu os títulos: Tropeiro de Palmas, em 11 de junho de 1999; Sócio Fundador do Centro Pastoral, Educacional e Assistencial “Dom Carlos” - CPEA; Certificado de Expositor, Primeiro lugar, Categoria reprodutor raça Caracu ‘Adão”, Feira do Parque Castelo Branco, em Curitiba, 1965. Certificado de Expositor, Primeiro lugar, Categoria Bezerros da Raça Caracu, Feira de Água Doce, Santa Catarina, 1984. Pertence às Associações: Clube União Recreativo Palmense, desde 1937; Cooperativa Agropecuária de Palmas, Paraná, hoje Cooperativa Agropecuária Mourãoense - COAMO; Sindicato Rural de Palmas, desde a fundação. Associação dos Criadores da Raça Caracu; Centro Pastoral, Educacional e Assistencial “Dom Carlos”, desde a criação e por vários anos. É Membro Fundador da Academia Palmense de Letras, fundada em 09 de novembro de 2000, ocupa a Cadeira Nº 15, Patrono José Antônio Alexandre Vieira.
Autor do Livro: “Reminiscências- História de Palmas”.




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Lucy Bortolini Nazaro Poesia Aproximando Distâncias Projeto de Alfred Asis Chile

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